segunda-feira, 8 de março de 2010

Utilização da Rede Elétrica para Transmissão de Informações em Alta Velocidade

A diretoria colegiada da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou no final de agosto as regras para utilização da rede elétrica para transmissão de informações em alta velocidade. A base da tecnologia, atualmente denominada Power Line Communications (PLC), não é nova e os primeiros estudos foram realizados ainda na década de 20. Porém, sua implantação em larga escala só vem sido possibilitada nos últimos anos, devido ao desenvolvimento de novos dispositivos que contornam ou amenizam problemas encontrados nos modelos anteriores, como ruídos e interferências. Trata-se de um sistema de telecomunicações que utiliza a rede elétrica como meio físico para a disseminação de informações de origens analógicas e digitais, como os sinais de internet (banda larga), vídeo e voz. Entre várias outras possíveis aplicações para a tecnologia, destaca-se a opção de uso da rede para controle, monitoramento, supervisão, operação e gerenciamento do sistema de energia elétrica, além de aplicações de automação predial e residencial.

Do ponto de vista de seu funcionamento, informações na forma digital são inicialmente convertidos em sinais analógicos que são posteriormente inseridos na rede elétrica. Para adequar os sinais transmitidos às características da rede e, com isso, garantir sua transmissão, os sistemas de telecomunicações baseados na tecnologia PLC são projetados para funcionar em frequências altas, especificamente na faixa entre 9 kHz e 30 MHz. A energia elétrica é transmitida com sinais de frequência inferiores, da ordem de Hz (comumente entre 50 e 60 Hz) e, sendo assim, ambos podem conviver harmoniosamente no mesmo meio. Após a inserção do sinal analógico na rede, este pode percorrer sua extensão, de forma orientada e controlada, passando, quando necessário, por repetidores que mantêm a qualidade do sinal (manutenção de suas características físicas). Por fim, com o auxílio de um gateway, um dispositivo que tem por objetivo fazer uma conexão de forma segura entre a rede externa (rede de transmissão) e a rede interna (rede domiciliar ou empresarial, por exemplo), o sinal chega finalmente ao modem doméstico, com a reconversão do sinal para a forma digital, estando disponível para o uso.

Do ponto de vista técnico, uma das vantagens significativas da tecnologia PLC é a possibilidade de usar uma infra-estrutura já existente. Do ponto de vista social, a nova tecnologia a ser adotada poderá promover uma maior democratização da internet e de meios de comunicação hoje significativamente elitizados, como canais de televisão fechados, por exemplo. Segundo dados do governo federal, atualmente existem 63,9 milhões de unidades consumidoras de energia elétrica no país, interligadas por 90 mil quilômetros de sistemas de transmissão e distribuição. Estes números incluem habitantes de regiões rurais ou distantes dos grandes centros, de forma geral, onde a disseminação de sinais via fibra óptica (meio de transmissão e distribuição convencional), por exemplo, pode não ser vantajosa economicamente para as empresas, dependendo da demanda. Do ponto de vista econômico, a utilização da rede elétrica das diversas concessionárias poderá trazer grandes benefícios para o consumidor, tendo em vista que a utilização de uma infra-estrutura física já pronta poderá promover uma diminuição no valor pago pela assinatura de serviços como internet e TVs não abertas. Além disso, o montante a ser repassado pelas empresas responsáveis por estes serviços às concessionárias detentoras das redes, pela sua utilização, poderá baratear o valor do serviço cobrado pelo fornecimento de energia elétrica.

Uma das desvantagens do uso da tecnologia PLC é uma possível interferência em equipamentos que usam radiofrequência, como receptores de rádio, telefones sem fio, alguns tipos de interfones ou até mesmo televisores. Segundo a ABERT (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) o sistema de tráfego de informações usando a tecnologia PLC poderá interferir em canais abertos de televisão em VHF (termo originário do inglês, Very High Frequency, que se refere à frequências altas do sinal transmitido, na faixa de 30 a 300 MHz) e rádio AM (do inglês Amplitude Modulation, que se refere a sinais de radiofrequência com Modulação em Amplitude). Outra desvantagem é o fato da rede elétrica estar susceptível a interferências devido à demanda gerada por alguns dispositivos elétricos, como motores de alto desempenho, por exemplo. Por fim, um fator que também pode ser limitante para a tecnologia PLC vem do fato de que, devido a sua estrutura, todos os usuários compartilharem uma só largura de banda disponível. Isso significa que o desempenho da conexão pode variar de acordo com o número de pessoas que estiverem navegando ou baixando arquivos simultaneamente.
Ficará a cargo da ANEEL fiscalizar a qualidade da energia elétrica após a implantação do novo serviço. A implantação e exploração do PLC não poderão afetar a qualidade do fornecimento de energia elétrica para os consumidores. A ANEEL não regulará ou acompanhará a qualidade do serviço de transmissão de dados, esta função será de competência da ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações).

A empresa de fornecimento de energia elétrica COPEL (Companhia Paranaense de Energia) foi a primeira a realizar experiências com a PLC no Brasil, ainda no ano de 2001, testando a tecnologia em 50 domicílios de Curitiba. No início desse ano, a COPEL retomou os estudos utilizando um grupo de amostragem de 300 usuários (residenciais, corporativos e órgãos públicos) na cidade de Santo Antônio da Platina, localizada no norte do estado. Os usuários terão sinais digitais de imagem, voz e dados gratuitos durante um ano, mediante o compromisso de monitorar, avaliar, acompanhar e relatar continuamente para a empresa a qualidade dos sinais. Segundo a ABERT, a COPEL está investindo R$ 1 milhão na aquisição de equipamentos como modems e amplificadores, que em breve entrarão em fase final de instalação. A empresa de energia tem programas em parceria com o governo do Estado e a intenção, com a PLC, é usar a tecnologia tanto para programas de inclusão digital, quanto para fins comerciais.

Com os critérios de exploração estabelecidos pela ANEEL e com os investimentos das companhias de energia elétrica em pesquisa para desenvolvimento, adequação de dispositivos e testes com os já existentes no mercado, os órgãos envolvidos na implantação da PLC no Brasil estimam que muito em breve será possível uma utilização em grande escala dessa tecnologia.

Um comentário:

  1. Muito bom, mestre! É importante mostrar com riqueza de detalhes as possibilidades que se apresentam no campo da tecnologia; e você fez isso muito bem em seu texto! Só para complementar, existe um grupo na UFJF (Engenharia Elétrica) que se dedica ao estudo de viabilização e aperfeiçoamento do PLC. A alta tecnologia se encontra mais próxima do que a gente imagina...

    AMP!

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