sexta-feira, 19 de março de 2010

Enriquecimento Ilícito (Parte I)

Eu estava ali do seu lado. Por debaixo do tecido fino da camisola podia ver as sinuosas curvas do seu quadril. Achava incrível o quando os anos tinham sido generosos com ela. Confesso que já não sentia a mesma excitação de algum tempo atrás e que talvez ela tenha sido substituída por um grande carinho e admiração, mas ainda assim, ao vê-la dormindo tão bela, sentia vontade de deslizar minhas mãos por seu quadril e sentir a textura de suas coxas com a pele do meu rosto.

Nas noites em que eu estava em casa, jantávamos sempre sozinhos, após o último empregado deixar a casa. Conversávamos sobre algum assunto do dia, alguma notícia do jornal ou da televisão, e íamos dormir, no sentido mais literal dessa palavra. Estava tácito que nossa relação há muito tempo não ia bem... Às vezes pegava um livro e tentava ler, quando ela virava-se de costas para mim na cama e ficava em silêncio na tentativa de adormecer. Eu nunca perguntava o que estava acontecendo e nem discutia por não fazermos amor. Depois de algum tempo agente descobre que por sexo não se briga, não se implora. Se nós estávamos naquela situação é porque alguma coisa estava errada. Porém, somente hoje eu percebo que estava cego de mais para ver o que nossas vidas tinham se tornando.

Há vinte anos fazíamos amor por horas no colchão da republica onde ela morava. Depois ficávamos um bom tempo nos olhando sem dizer uma única palavra, talvez ainda dando tempo para aproveitarmos os resíduos de adrenalina liberada. Com o passar do tempo, nos inícios de noite em claro, entre ela e o abajur que iluminava o meu rosto e o perfil da sua camisola, não conseguia entender como não conseguíamos aproveitar o conforto que tínhamos à nossa disposição.

Obs.: Correções e sugestões de português para antonio.ufjf@gmail.com rsrs

2 comentários:

  1. Juninho, o seu texto está digno de um cronista profissional...parabéns! Com relação ao texto, acho interessante vc levantar uma questão tão relevante que toma várias formas na vida cotidiana...a solidão acompanhada..seja ela no sexo, no trato, na conversa...

    Parabéns! Agora poste a 2a parte...hehhehe

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  2. Vlw mestre!! Crítica feita (boa ou ruim), segue a segunda parte em breve!!

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