segunda-feira, 8 de março de 2010

Acordo de Cooperação Nuclear Brasil-Irã

Nesta última quarta-feira (03/03/10) a Sociedade Brasileira de Física (SBF) divulgou uma nota em seu portal na qual ela se posiciona a respeito de uma possível colaboração entre Brasil e Irã na área nuclear. A divulgação, assinada pela Diretoria e pelo Conselho da SBF, conseguiu ser político, sutil e simultaneamente enfático em sua posição. Leia o trecho a seguir:

“... externamos nossa preocupação com as notícias de que acordos bilaterais na área nuclear entre o Brasil e países não-signatários do tratado de não-proliferação nuclear possam estar em fase de análise pelo governo brasileiro, e manifestamos nossa convicção de que os interesses brasileiros estariam mais bem representados se, no momento, nenhuma cooperação técnico-científica na área nuclear viesse a ser celebrada com a República Islâmica do Irã.”

A SBF se posicionou devido a rumores de que o Governo Federal estaria consultando a comunidade científica nacional a respeito de pontos de interesse comum que pudessem servir de base a um eventual acordo de cooperação Brasil-Irã na área nuclear. A preocupação da organização de Físicos, em sua maioria, pode ter como base o pronunciamento à televisão estatal iraniana do presidente Mahmud Ahmadinejad no dia 07/02 a respeito do incentivo governamental para a produção de urânio enriquecido a 20%. O Irã é um país do Oriente Médio (sudoeste da Ásia), de religião islâmica e que tem sua economia fundamentada basicamente na agricultura, pecuária e mineração. Em seu segundo mandato o presidente Ahmadinejad vem chamando recorrentemente, de forma negativa, a atenção da comunidade internacional e principalmente a do governo Norte-Americano. Atualmente a infra-estrutura nuclear do Irã é capaz de enriquecer urânio em baixa percentagem (~3,5%). Para fins medicinais, pacífico, como ecoado pelos governantes iranianos, o enriquecimento necessário é de 20%. Este grau de enriquecimento já é considerado tecnicamente alto. O temor é que, se autorizado a enriquecer o urânio a esta percentagem, o Irã passe para um estágio superior, de 85%, já suficiente para a produção de armas nucleares. Entende-se como enriquecimento de um determinado elemento químico qualquer processo que possibilite sua utilização com uma fração isotópica de seus átomos mais pesados superior à encontrada na natureza.

A preocupação da SBF é plausível e mostra uma atitude condizente com a responsabilidade de quem é responsável pela produção de parte do conhecimento fomentado pelo país e pela formação de opinião embutida na formação e qualificação de recursos humanos.

2 comentários:

  1. "... a nota da SBF errou ao deixar transparecer que a República Islâmica do Irã não seria signatária do tratado de não proliferação nuclear (TNP, ver http://disarmament.un.org/TreatyStatus.nsf): na verdade, o Irã é membro do acordo desde 1968 (ver http://disarmament.un.org/TreatyStatus.nsf) e, segundo informações de autoridades do governo brasileiro, os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) inspecionam regularmente as unidades de produção de urânio no Irã, que são permanentemente monitoradas pela AIEA através de câmera de vídeo, tal como ocorre com as instalações brasileiras"

    Retificação da SBF

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  2. Creio que este é um caso clássico do link que deve existir entre ciência e política/poder. A política internacional adotada pelo Brasil, principalmente, tem se mostrado bastante preocupada com as questões de mercado em detrimento a fatores outros não menos importantes, mas que tem sido subvalorizados...fica a deixa...

    AMP e parabéns, mestre!

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